Meio Dia...
Meio dia.
O sol estava alto, o calor era intenso.
O sol estava alto, o calor era intenso.
A essa hora do dia todos pareciam entorpecidos pelo mormaço
de um verão impiedoso e árido. O corpo e as ideias entorpecidas, raciocínio e
reações lentas. O movimento na rua diminuíra. Pessoas procuravam o abrigo das
sombras causadas pelos altos edifícios ou entravam em lojas equipadas com ar
condicionado.
O relógio da igreja preguiçosamente badalava as horas.
Alguns carros passavam. As luzes do semáforo ofuscadas pelo sol.
Fora da faixa de pedestres, alguém atravessa a rua, sem vontade
ou ânimo para correr. Uma freada súbita, um ruído intenso, um baque surdo.
Um corpo no chão, inerte. Um rosto assustado por detrás do
reluzente para-brisa do automóvel luxuoso. O motorista recompondo-se
lentamente, sai do veículo. Rostos curiosos espiam pelas portas e janelas,
alguns se atrevem a chegar mais perto.
O motorista observa-os um a um. Seus olhos passam das
pessoas para o carro e, devagar, bem devagar, alcança o corpo. Analisam a rude
vestimenta daquele rapaz, moreno, de origem humilde.
Pensa em socorrê-lo, mas não consegue. Não consegue se mover,
somente seus olhos reagem. Ninguém reage, nem o corpo no chão.
Tudo parado, preguiçoso e inerte.